Ligo-lhe ao fim do dia para cumprir a rotina. Uma mensagem de manhã, uma chamada à noite, tudo para compensar a ausência.
Até aqui nada de novo, até ter falhado com a dita rotina no dia 14.
Porquê? Porque foi um dia complicado, cheio... por mais nada.
Dia 15 ligo-lhe. Do outro lado a voz aguda, estridente, típica de quem vai jogar ao ataque: "Ontem não me ligaste, o meu filho ligou!".
Não percebi à primeira. Ela sabe que às vezes eu não ligo, mas ter chamado o filho à conversa deixou-me intrigada.
"O seu filho ligou-lhe?", ah, lá me lembrei. Ligou porque era dia dos namorados.
Ora bolas, tem um filho e um marido (atenção, tem marido) e reclama por eu não ter ligado no dia dos namorados.
Pensei alto até e ouvi um riso divertido: "Sim, sim. O meu filho ligou-me. Tu nada".
"Pois claro que não liguei", disse-lhe. "E o seu filho só fez bem. Está a compensar o mau filho que foi durante todo o tempo que esteve perto. Agora que está longe mudou".
E ligar-lhe no dia dos namorados porque era o dia dos namorados? Nem me lembro de alguma vez tê-lo feito.
Ela continuava a rir-se sem mudar de opinião. O filho era o pródigo!
Teria graça se não tivesse calhado numa semana complicada, de má gestão de conflitos internos, chuvosa e fria.
A pontaria foi má no que toca ao timing, mas amanhã passo aqui e darei a maior gargalhada depois de reler este curto relato.